Mesa-Redonda com convidadas especiais amplia discussões sobre assédio no IFG Aparecida de Goiânia
Temas como abuso de autoridade, feminicidio e letramento cultural foram abordados de forma eloquente.
Na noite de 2ª feira, 19, aconteceu no IFG Aparecida de Goiânia uma Mesa-Redonda que aqueceu as discussões institucionais sobre todos os tipos de assédio. Com o tema: “Relação Professor/a – Aluno/a: Assédios”, participaram do encontro as pesquisadoras Aava Santiago, Camila Borges e Tânia Rezende. A mesa teve a mediação da professora Luciana Ribeiro.
Com falas distintas e muito acaloradas, as convidadas garantiram que o público presente pudesse fazer reflexões acerca de hábitos e costumes que corroboram para a existência de processos excludentes, violentos e massacrantes em torno grupos sociais, como no caso das mulheres, que ainda hoje sofrem com o machismo, que muitas vezes nem é percebido no cotidiano da sociedade.
A língua como ação política
A professora Tânia Rezende, doutora em linguística pela UFMG e docente da Faculdade de Letras da UFG, elevou a questão do assédio e da discriminação ao nível da cultura linguística e explicou que é preciso que as pessoas aprendam a ler o mundo à sua volta, porque a educação está principalmente nos detalhes. A professora apresentou exemplos de comportamentos e expressões, manifestadas na fala e na escrita, que ferem de maneira subtextual a dignidade de mulheres, e que, não raro, acontecem no cotidiano dos ambientes de trabalho de todas elas. Tânia comentou ainda sobre a urgência contemporânea do falar, porque a palavra é ação política. E que por isso mesmo tem o poder de transformar. Ela defende que cada vez mais seja falado sobre tudo aquilo que incomoda, que ataca, que fere o ser humano. A linguista tocou ainda na questão da postura das instituições, que precisam criar políticas para combater qualquer forma de violência física, moral, sexual, principalmente aquela que é velada, que passa por relações de poder que sufocam e minimizam a chance de defesa da/o agredida/o.
O assédio e as relações de poder na escola
Em sua fala a cofundadora do Coletivo Feminista Pagu, a jovem pesquisadora Camila Borges, acrescentou o relato de sua própria experiência com o assédio dentro de instituições de ensino. Camila comentou, por exemplo, que a mulher, a menina, precisa começar a tomar certos cuidados, a adotar certos tipos de comportamento considerados seguros, a partir do momento em que começam a aparecer os primeiros sinais de maturidade sexual, e que isso é absurdo, porque em sua ampla maioria é algo que só ocorre com as alunas do sexo feminino. Ela, que é graduada em direito pela UFG, também comentou sobre as relações hierárquicas, que são institucionalizadas e geram comportamentos nocivos contra aqueles que estão submetidos/as a um superior. Ela complementou falando sobre os processos que levam à invisibilidade desse assédio, justamente pelo medo que a vítima tem de ser punida de outras maneiras pelo agressor, ou mesmo por vergonha de se expor.
Feminicídio X Machismo – Uma doença de 5 mil anos
A terceira fala foi da socióloga Aava Santiago. A pesquisadora, que também está como Secretária Executiva de Juventude do Governo do Estado e como PresidentA do Conselho Estadual da Juventude, faz questão que suas funções sejam ditas e grafadas em sua versão feminina, justamente para fortalecer o papel da mulher na sociedade, principalmente para combater os equívocos que ainda acometem nossa língua formal e que garantem que mais segregação seja imposta ao universo feminino. Aava ainda é comentarista de programas de rádio sobre temas ligados ao feminismo.
Em sua contribuição, Aava falou da desumanização das mulheres, que desde seu nascimento são educadas para entender que elas só podem se humanizar através de um homem. Que elas só conseguem resolver os problemas cotidianos se for pela tomada de decisões por parte de pais, maridos, irmãos. Ela disse que quando percebeu que ela própria era acometida desse mal, fez questão de travar sua própria batalha para sair desse ciclo nocivo, que está imbricado inclusive no modo de pensar de cada uma. Ela ainda acrescenta que o tempo todo mulheres precisam provar que são capazes, no comércio, na oficina mecânica, nos cargos de direção, no mundo político e jurídico, e que isso é muito desgastante, levando muitas à desistência.
No assédio acontece uma espécie de desistência diante do que é posto pela sociedade sobre a responsabilidade da mulher nos atos de violência que elas mesmas sofrem. Aava eleva a voz quando fala de casos da grande mídia, em que nas entrelinhas de matérias aparecem a culpabilização do ser feminino por seu próprio feminicídio. Palavras que confundem o leitor, chamando de passionalismo o que é puro machismo, e dizendo que esse passionalismo é uma doença urbana recente, sendo que há 5 mil anos as mulheres sofrem abusos por parte dos homens. Aava ainda cita reality shows de televisão que promovem este tipo de comportamento assedioso dentro de seus programas, em busca de mais audiência, sem fazer qualquer reflexão sobre violência psicológica, mostrando apenas como a mulher é um ser histérico e frágil.
Para finalizar a convidada falou sobre a importância do acolhimento às mulheres vítimas de violência, porque o que a sociedade tem feito, via de regra, é procurar um segundo lado de uma moeda que só tem um lado, o da mulher que é exposta à agressão, mas que passa por inúmeros constrangimentos até conseguir denunciar seu agressor, quando consegue fazê-lo.
A mesa foi encerrada com a participação de professores e gestores presentes no evento, que fizeram suas colaborações no sentido de trazer essa discussão para dentro do IFG, de maneira formal, criando ferramentas que garantam a segurança e o poder de fala de todos que participam desta comunidade acadêmica.
A diretora-geral do Câmpus Aparecida de Goiânia, Ana Lucia Siqueira de Oliveira, que é uma das poucas mulheres no Instituto a estar nesse cargo, se manifestou dizendo sobre sua emoção em participar de um encontro como este, que ocorreu dentro da Semana de Planejamento Pedagógico da escola. Ana falou sobre o dever de tornar isso uma construção cotidiana, de desnaturalização dos processos machistas que nos atravessam, da necessidade de ferramentas formais que combatam esse tipo de conduta e protejam os alunos física e psicologicamente.
Coordenação de Comunicação Social e Eventos / Câmpus Aparecida de Goiânia
Redes Sociais