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Igualdade racial

IV Encontro Quilombola da Chapada dos Veadeiros tem participação de professora do IFG

Publicado: Quinta, 27 de Julho de 2017, 10h46 | Última atualização em Terça, 15 de Agosto de 2017, 10h12

A professora Janira Sodré falou sobre o papel da mulher negra na sociedade brasileira

"O IFG se projeta como uma instituição que faz uma aliança com a sociedade civil organizada, reconhecendo o seu lugar de produtora de conhecimento e de sua importância na transformação da sociedade." (Janira Sodré)

O IV Encontro Quilombola da Chapada dos Veadeiros, que está sendo realizado esta semana dentro da programação do XVII Encontro de Culturas Tradicionais, teve participação da professora do IFG Janira Sodré Miranda, em roda de conversa sobre mulheres negras, na terça-feira, dia 25. O Instituto Federal de Goiás é parceiro na realização dos dois eventos.

25 de julho é o Dia da Mulher Negra Diaspórica. Em sua participação, Janira Sodré Miranda falou sobre o papel da mulher negra na história brasileira. A professora faz parte do Fórum de Mulheres Negras do Brasil, da ONG Mulheres Negras Dandara no Cerrado, da Comissão de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Instituto Federal de Goiás e do Núcleo de estudos Gênero, Raça e Africanidades do IFG – Câmpus Goiânia.

Em conversa com a equipe de comunicação do IFG, Janira falou sobre a importância do Encontro, sobre a correlação do evento com o trabalho que o Instituto tem feito junto às comunidades tradicionais e sobre a importância de se manter frequente essa interação e confluência.

Confira abaixo alguns trechos da conversa, em tópicos, ocorrida na Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge, na Vila de São Jorge, município de Alto Paraíso de Goiás.

 

“Desde antes do ano de 2012, que é o ano em que surgiu o Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI do IFG, já existia um trabalho difuso dentro da comunidade IFGeana. O Câmpus Goiânia tem uma luta que vem de décadas, o Câmpus Jataí também tem uma história de atuação, assim como o Câmpus Luziânia. Mas quando surgiu o PDI, a Política de Promoção da Igualdade Racial foi implementada oficialmente, dentro de um pensamento institucional ”.

 

O Instituto Federal de Goiás no Encontro de Culturas

“Nossa vinda pra esse 17º Encontro de Comunidades Tradicionais da Chapada dos Veadeiros tem importância estratégica na sobrevivência dos seres humanos, do território Kalunga, do território da Chapada, do Parque Nacional, do Aquífero Guarani, que é o berço das águas do Brasil. Ou seja, importância estratégica para os povos dessa placa geodésica do planeta, onde está o nosso estado de Goiás, a Capital Federal. E principalmente para revermos o significado que esse território estratégico tem no projeto de desenvolvimento nacional, em cheque, em todos os momentos da nossa história, mas nesse momento particularmente, com os grandes projetos econômicos sendo expandidos, sem levar em conta a sobrevivência de todos os seres vivos presentes nesse local, das espécies todas, das comunidades tradicionais. Nosso intuito aqui é incentivar iniciativas como esta, que estabelecem protagonismo, resistência, permanência, soberania territorial.”


O trabalho do IFG junto às comunidades tradicionais
 

“Desde antes do ano de 2012, que é o ano em que surgiu o Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI do IFG, já existia um trabalho difuso dentro da comunidade “IFGeana”. O Câmpus Goiânia tem uma luta que vem de décadas, o Câmpus Jataí também tem uma história de atuação, assim como o Câmpus Luziânia. Mas quando surgiu o PDI, a Política de Promoção da Igualdade Racial foi implementada oficialmente, dentro de um pensamento institucional. Ao mesmo tempo, nasceu um grande desafio, que foi a criação de uma instância de gestão, dentro do IFG, para lidar com a igualdade racial. Agora já existe uma comissão permanente de políticas de promoção da igualdade racial, mas, essa comissão é só um órgão. Na verdade, o nosso desafio institucional é ainda mais amplo. Nosso desafio é, por exemplo, inserir a comunidade negra, a quilombola, as comunidades indígenas, as comunidades tradicionais, dentro do Instituto Federal, oferecendo condições de acesso e de usufruto daquilo que é delas por direito, já que nós somos uma instituição educadora.” 

 

48% dos goianos são negros

“Em 2012, por exemplo, nós não conseguimos que o IFG se adiantasse e colocasse o acesso como parte de nossa política. Foi só quando veio a Lei Federal, da Presidência da República, que a gente adotou as políticas de cotas. Mas nós já havíamos debatido isso internamente, só não havíamos instituído essa política. Além do acesso, nós temos que garantir uma permanência exitosa dessas populações, além de uma saída, no fim dos percursos pedagógicos, com boas perspectivas de atuação desse cidadão no mundo do trabalho e no mundo social. Nossa atividade fim é oferecer educação de qualidade, social, enraizada, regionalmente, favorecendo os arranjos econômicos locais, que desenvolvam essas comunidades. Hoje nós temos uma população em Goiás, mapeada pelo IBGE, em que 48% dos cidadãos são negros. Então nós temos que voltar nossos olhos e ações para esse público também. Mas a questão da oferta da educação é somente um dos tópicos.”

 

Redução dos números de homicídios no Brasil

“Nós temos outras frentes de ação, que são uma série de projetos coligados a esta ideia inicial, como o Projeto de Desenvolvimento de Comunidades Tradicionais em Redes, que está abrigado na Pró-Reitoria de Extensão, e o Mapeamento da Rede de Atenção a Situações de Racismo. Este último é um mapeamento nacional, que tem sido feito pelo Instituto Federal de Goiás, para subsidiar uma política pública nacional, que nós consideramos crucial em um país em que ocorre o que chamamos de genocídio do povo negro, com foco na juventude negra, principalmente os rapazes. A rede de mapeamento das situações de racismo pode subsidiar um pacto pela redução de homicídios no Brasil. Um genocídio que gera um desdobramento imenso na nossa sociedade. Se você tem uma geração de homens mortos, você tem uma geração de mulheres jovens viúvas, que são mães de família, que têm filhos com esses rapazes que morreram. Então esse é um trabalho que nós, de uma instituição local, estamos gerando dados para uma discussão nacional.”

 

Encontro de Culturas Negras

“Nós também temos o nosso Encontro de Culturas Negras, que já vai pra sua terceira edição, no fim de novembro, início de dezembro, e que acontece no IFG de Uruaçu. Esse é um evento que tem conexão direta com o trabalho com comunidades tradicionais, os quilombolas, os congadeiros, os representantes das religiões de matrizes africanas, e também a experiência política dos negros na cidade.

As comunidades tradicionais têm sua luta, seu protagonismo, sua trajetória, mas também é muito importante que haja uma aliança estratégica com os negros organizados politicamente, reivindicando seus direitos na cidade, porque é na cidade que as grandes decisões nacionais são tomadas.

O IFG, então, nesse sentido, se projeta como uma instituição que faz uma aliança com a sociedade civil organizada, reconhecendo o seu lugar de produtora de conhecimento e de sua importância na transformação da sociedade.

E nós acreditamos que quem transforma a sociedade não são projetos econômicos e políticos, elaborados pelos detentores de um poder institucional. Eles podem até fazê-lo, no interesse de grupos, mas a sociedade civil organizada, como representatividade das maiorias, é quem pode transformar uma realidade. A própria sobrevivência da vida social, é a sobrevivência da coletividade.”

 

Águas do Brasil e a proteção do Povo Kalunga

“Esse território onde estamos, durante esse Encontro, é a casa, o berço, o nascedouro, do aquífero Guarani, que é a caixa d´água do Brasil. E essas nascentes estão preservadas porque esse povo que ficou aqui não lida com o meio ambiente de forma predadora, é por isso que nós ainda temos esse patrimônio natural. O que faremos com isso? Eles guardaram até aqui. São 517 anos preservando, dentro de seu território, e ainda assim o povo Kalunga ainda é visto como sendo cidadãos de menor importância. O nosso desafio é fazer com que o Brasil perceba o que a exploração econômica, a busca pelo lucro a todo custo, pode fazer não somente com essa população, mas com todos os brasileiros.”

 

Nota da redação: No dia 16 de agosto vai ser votado no STF o decreto 4.887/2003, que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação e demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos, Segundo Elizeu Xumxum, liderança quilombola, que também participou da mesma roda de prosa que a Professora Janira, se o decreto for aprovado no Supremo Tribunal Federal, a bancada ruralista será, praticamente, a detentora do poder de decidir sobre as terras tradicionais dos indígenas, quilombolas e povos ribeirinhos. Xumxum adverte que, se isso acontecer, os povos tradicionais vão acabar perdendo o que ainda sobrou de suas terras para o agronegócio. Essa população vai acabar tendo que se mudar para a cidade. E ele questiona sobre o que a cidade tem pra oferecer a essa população, que não conhece nada do meio urbano.

(Elizeu é presidente do Quilombo Capão Negro, de Várzea Grande. Militante do movimento negro e articulista político pelas demandas do povo negro. Xumxum também é delegado da Organização das Nações Unidas – ONU -, no programa “Década Internacional de Afrodescendentes”, que se estenderá até 2024).

 

25 de julho – Dia da Mulher Negra Diaspórica

“Existe um dia da mulher africana, mas até pouco tempo não havia uma homenagem a todas as mulheres negras da América Latina, Caribe e do Brasil. O dia 25 de julho, então, ficou consagrado no I Encontro das Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, que aconteceu na República Dominicana, em 1992. Várias mulheres negras da América Latina decidiram instituir esta data como marco simbólico de resistência política contra a opressão do racismo, do sexismo e de outras formas de dominação político-cultural e social impostas às populações negras –femininas na Diáspora. As mulheres negras nas Américas passaram pela experiência da escravidão, que demarcou um lugar, para as mulheres negras e também para os mestiços, filhos dessas mulheres.

Os mestiços, os pardos, aquilo que o brasileiro não sabe o que é... no fundo aponta para o fato de que nós somos todos filhos de uma mulher negra. A grande mãe da sociedade brasileira é a mulher negra. Seja porque ela é mãe de negros, que fugiram pros quilombos, seja porque ela é mãe de negros que ficaram na cidade, seja porque ela foi mãe, filha desse estupro colonial, que gerou esse mestiço, que o brasileiro tem orgulho de dizer que é, seja porque, ao ter tido seus descendentes tirados do seu convívio, as mulheres negras passaram a amamentar os filhos de seus algozes, se tornando em seguida suas mucamas, e por fim, e ainda hoje, babás dos filhos da elite brasileira.

Então, se você pensar mulheres negras, em um país como o Brasil, e você colocar sua lente em vários lugares, você vai ver a presença dessa mulher negra em vários espectros, em vários lugares, de várias formas. Então eu diria que nós temos um problema Freudiano, porque a África é a mãe do Brasil, e é essa mãe negada”.

 

A mulher Kalunga como um pilar social

“Aqui no Encontro, nesta manhã do dia 25, nós pudemos celebrar esse dia 25 de julho vendo as mulheres kalunga explicando o uso que fazem de produtos medicinais que elas extraem de seu território e como arrecadam recursos com as vendas desses produtos que elas elaboram.

Por lá as mulheres têm um trabalho próprio, com a extração vegetal sustentável, de produtos biodegradáveis, que você sabe pra quê serve, pra quê você está tirando, que elas indicam tanto pra sustentar a vida, quanto pra sustentar a saúde. Elementos da natureza que elas usam pra sustentar suas famílias como forma de alimento e também de remédio. Então, além de tudo, a gente ainda aborda essa inspiração poética, porque é algo que ao mesmo tempo traz uma mística de conexão com o território, mas é também uma política de sobrevivência ali. O papel das mulheres é estratégico nas comunidades Kalunga. É estratégico porque também são sociedades onde a mãe tem uma proeminência muito grande. Seja na relação com os filhos ou com a comunidade. O respeito, o sentido, o significado da presença da mulher.

 É claro que também existe o outro lado, de um corpo oprimido pela operação patriarcal, onde os homens, muitas vezes não têm aquela moral toda, mas têm um poder danado. Mas esse é mais um dos nossos desafios, o empoderamento dessas mulheres, jovens e meninas”.

 

O Instituto Federal de Goiás e as vozes das mulheres negras

“Por isso comentei anteriormente, que é necessário que o Instituto trabalhe pelo acesso dessas meninas em nossas escolas, porque nesse processo, o conhecimento é importante, assim como a tecnologia. Nós somos um Instituto Tecnológico. As tecnologias precisam ser dominadas pelas mulheres jovens! Hoje o movimento negro brasileiro tem um protagonismo danado, de internet... imenso... estratégico... de mulheres negras jovens. Pra nós do IFG seria muito importante poder abrigar e contribuir pra esse tipo de iniciativa.

Em um país de maioria negra, onde as mulheres negras funcionaram como mães, matrizes e nutrizes de toda uma sociedade, é importante reconhecer a importância do lugar de sua fala. Eu considero que o Brasil precisa escutar essas mulheres. As instituições brasileiras precisam escutar”.

 

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Para saber mais sobre o Dia 25 de julho – Dia da Mulher Negra Diaspórica, acesse https://www.geledes.org.br/ e o link http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2017/07/campanha-marca-dia-internacional-da-mulher-negra

 

Para saber mais sobre o Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, acesse: www.encontrodeculturas.com.br

 

 

 

Coordenação de Comunicação Social e Eventos / Câmpus Aparecida de Goiânia

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